segunda-feira, 14 de julho de 2014

«E apetecia-lhe estoirar o cérebro e ao carne de encontro às pedras, às árvores, aos astros, de encontro a alguma coisa, ainda não identificada, onde se devia acoitar o responsável da sua desgraça. Loas semicerrou os olhos a esse pensamento capcioso, lento, terrível. Todo ele se encolheu, de pêlos eriçados, como um bicho à espreita do assalto de outro bicho. Que sentia no seu cérebro? Sonho, génio, loucura - apenas tragédia? Havia nele uma zona obscura e esquiva, que afinal temia explorar, um inacessível inferno donde brotavam lavas, clarões fugazes, iluminando-lhe o pensamento para o logo escurecer. Donde partira a sua desgraça?»



Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 198
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