sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Há-de rir-se, quando vir que não aprendeste sem sequer a beijar.

«- Que pena não poder nunca contentar-te. Porque havia eu de ter interesse em fazer-te vaidosa? És bela e gostaria de mostrar-te a gratidão que a tua beleza me inspira. Forças-me a dizê-lo por palavras; poderia dizê-lo mil vezes melhor do que por palavras. Por palavras nada te posso dar! Por palavras nada posso aprender de ti nem tu de mim.
  -E que posso eu aprender contigo?
  -Eu contigo e tu comigo, Lídia. Mas tu não queres; só queres amar de quem venhas a ser noiva. Há-de rir-se, quando vir que  não aprendeste sem sequer a beijar.
  -Com que então queria dar-me lições de beijos, senhor magister?
  Ele sorriu-lhe. Embora as palavras dela não lhe agradassem, não podia deixar de pressentir a sua feminilidade por detrás daqueles discursos arrebatados e um tanto inautênticos; sentiu que o desejo se apoderava dela e que ela, receosa, lhe resistia.»





Hermann Hesse. Narciso e Goldmundo. Tradução de Manuela de Sousa Marques. Guimarães Editores, Lisboa, 2005., p. 95
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