segunda-feira, 25 de abril de 2011

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Democracia! próxima de ti uma garganta enche-se agora de ar e
           canta alegremente.

Ma femme! para os filhos que vêm de nós e depois de nós,
Para aqueles que são daqui e aqueles que hão-de vir,
Eu, exultante por estar pronto para eles lanço cá fora canções
             mais vigorosas e altivas do que qualquer outras alguma
             vez ouvidas na terra.

Hei-de escrever canções de paixão para lhes mostrar o seu caminho,
E as vossas canções, transgressores proscritos, porque vos observo
             com olhos de pai e vos levo comigo como a qualquer outro.

Hei-de escrever o verdadeiro poema da riqueza,
Alcançar para o corpo e para o espírito tudo o que se lhe prenda e
             progrida e não seja abandonado pela morte;
Hei-de derramar o egotismo e revelá-lo subjacente a tudo e ser o
             bardo da personalidade,
E hei-de mostrar do macho e da fêmea que um é apenas igual ao
            outro,
E os órgão e actos sexuais! Concentrai-vos em mim pois estou
           decidido a dizer-vos com uma voz límpida e corajosa para
           mostrar que sois gloriosos,
E hei-de mostar que não existe qualquer imperfeição no presente
           e nenhuma pode existir no futuro,
E hei-de mostrar que, seja o que for que aconteça a alguém, pode
           transformar-se em belos resultados,
E hei-de mostrar que nada existe de mais belo que a morte,
E hei-de passar um fio através dos meus poemas para que o tempo
           e os acontecimentos fiquem unidos,
E todas as coisas do universo sejam milagres perfeitos, cada um tão
           profundo como os outros.

Não irei escrever poemas que se refiram a partes,
Mas hei-de escrever poemas, canções, pensamentos que se refiram
           ao todo,
E não hei-de cantar referindo-me a um dia, mas sim referindo-me
          a todos os dias,
E não hei-de fazer um poema ou a mínima parte de um poema
          que não se refira à alma.

Porque, após ter olhado para os objectos do Universo, vi que não
           existe um, nem uma partícula de um que não se refira à
          alma.




Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 23/4

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