sábado, 18 de dezembro de 2010

A família do sábio

Ao ruído de uma nascente de noite, sob uma campânula de folhas, com uma mesma árvore contra o tronco, calmo e frio - Pai - assim, num quarto frio, um dia a tua presença nos foi.

    Tu estavas frio, sob um único lençol, velado, uma janela aberta.

   Que equilíbrio nós quatro juntos, sem horas sentados, tu próprio ainda melhor em repouso, estendido, morto.

   Que pura saúde a do verde-frondoso, do solo, e do líquido.

   Igual em nós corria uma água em silêncio do pescoço sem cessar para o dorso até aos membros sob a erva. Pela janela surda, um sopro, derramado do fundo obscuro do céu, secava nas têmporas das mulheres o suor do anoitecer.

 E que também uma estrela, parecida com o olho do filho,
se avive,
 Sem o dizeres. daí tiravas teu gozo, Pai!



Francis Ponge.  Alguns poemas. Edição bilingue. Selecção, introdução e tradução de Manuel Gusmão. Edições Cotovia, Lisboa, 1996, p. 57

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