domingo, 20 de junho de 2010

“dois soberbos Satãs e uma Diaba, não menos extraordinária”

« (...)nas linhas do seu corpo a molície dos antigos Bacos. Os belos
olhos lânguidos, de cor tenebrosa e indecisa, assemelhavam-se
a violetas carregadas, ainda, das pesadas lágrimas da
tempestade(...).
Fitou-me com os seus olhos inconsolavelmente aflitos (...) e
disse-me em voz cantante:
– Se quiseres, se quiseres, eu te farei o soberano das almas, e tu
serás o senhor da matéria viva, ainda mais do que o escultor o
pode ser da argila; e conhecerás o prazer, ininterruptamente
renovável, de sair de ti mesmo para te esqueceres em
outrem, e de atrair as outras almas até confundi-las com a
tua. »



Charles Baudelaire. Pequenos Poemas em Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 59-60.

2 comentários:

  1. Ah Baudelaire! deixo-lhe uma passagem do meu caderno de Buridan de um texto sobre Baudelaire:

    " Baudelaire talvez seja um dos primeiros poetas [ coisa rara ] que vem do futuro , o poeta exemplar. A verdade é que na obra de Charles Baudelaire já se encontra , ainda que escondidos sob alguns laivos românticos, os traços fundamentais do que vai ser toda a poesia moderna até aos dias de hoje. É claro que antes de Baudelaire já alguns poetas houve que poderão ser considerados verdadeiros modernos. Penso aqui num Nerval. Os seus sonetos " Quimeras " são dignos precursores daquilo que mais tarde virá a ser chamado o surrealismo. Porém , é em Baudelaire que encontramos, pela primeira vez , a definição da poesia moderna teoricamente pensada , e é nele que descobrimos pela primeira vez a busca propositada, crítica, da despersonalização do eu lírico. É também com Baudelaire que se inicia uma tendência que vamos encontrar em grande parte dos poetas modernos: o cultivo do ensaio e por sua vez a critica literária, bem como a reflexão sobre o problema poético, lado a lado com produção poética."

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